Irmãos do ex-senador Clésio Andrade teriam tomado vacina clandestina em Belo Horizonte, diz Polícia Federal

Por Thais Pimentel e Fernando Zuba, G1 Minas e TV Globo — Belo Horizonte

Irmãos do ex-senador Clésio Andrade participaram da vacinação clandestina realizada em uma garagem de uma empresa de transportes em Belo Horizonte no dia 23 de março. Segundo a Polícia Federal, os nomes deles estão entre os 57 listados em um documento apreendido durante Operação Camarote.

Clésio Andrade disse ao G1 nesta quarta-feira (31) que esteve presente no local, pertencente à família Lessa, acompanhando familiares. Mas ele negou que tomou a dose disponibilizada na garagem. Os irmãos Robson e Rômulo Lessa admitiram em depoimento na sede da Polícia Federal que organizaram a imunização.

“Tive lá com alguns familiares mas parece que foi soro, fraude. É isto?”, perguntou o ex-senador ao mencionar a investigação da Polícia Federal que apura se as vacinas são falsas, foram desviadas do Ministério da Saúde ou compradas ilegalmente.

G1 perguntou se, mesmo acompanhando os familiares, não tinha se vacinado. Ele respondeu que estava na estrada e que depois conversaria sobre assunto. Na sequência, Clésio enviou o contato da assessoria de imprensa e não respondeu.

Clésio Andrade será ouvido pela Polícia Federal na semana que vem. Procurada, a assessoria de imprensa disse que não tem informações sobre este depoimento, mas confirmou as declarações dadas pelo ex-senador ao G1.

“Ele disse que acompanhou familiares, mas não quis dar detalhes ‘para não expô-los’, disse a assessoria.

A Polícia Federal investiga 57 nomes que fazem parte de uma lista apreendida durante buscas em imóveis da família Lessa nesta semana. A corporação considera Clésio Andrade um possível vacinado.

O nome dele surgiu em reportagem publicada pela Revista Piauí no dia 24 de março. Nela, ele admite ter sido vacinado. Ao G1, na quinta-feira (25), Clésio disse que não tinha conhecimento do assunto.

Aos 68 anos, ele disse nesta quarta-feira (31) que vai se vacinar no Sistema Único de Saúde.

“Daqui 15 dias, em Boa Esperança (Sul de Minas). Vacinei de gripe ontem (30) e tem que esperar 15 dias”, disse ele.

Investigação

Uma das três linhas de investigação da Polícia Federal, sobre o esquema de vacinação clandestina envolvendo políticos e empresários do setor de transporte de Belo Horizonte, vem ganhando força à medida que a Operação Camarote avança. Os imunizantes aplicados não seriam contra a Covid-19, mas sim falsificados.

“Pelos indícios do material que foi identificado, tudo indica que seja material falso”, disse o delegado Rodrigo Morais Fernandes.

Supostas vacinas contra a Covid-19 apreendidas pela Polícia Federal em BH. — Foto: Polícia Federal/Divulgação

Supostas vacinas contra a Covid-19 apreendidas pela Polícia Federal em BH. — Foto: Polícia Federal/Divulgação

Este material foi apreendido na casa da cuidadora de idosos Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas. A mulher é suspeita de se passar por enfermeira e comercializar ilegalmente vacinas contra a Covid-19.

De acordo com a polícia, Cláudia Mônica é a profissional responsável pela vacinação de empresários na garagem de ônibus da empresa da família Lessa , em Belo Horizonte. Ela foi presa nesta terça-feira (30).

O delegado Leandro Almada havia adiantado à TV Globo três linhas de investigação: supostamente, pode ter havido a importação irregular ou ilegal de imunizantes; também há hipótese de desvio de imunizantes pelo Ministério da Saúde; e fraude.

Uma especialista em vacinação analisou fotos divulgadas pela Polícia Federal que mostram o material apreendido. Segundo ela, há seringas sem rótulo de identificação, o que causa estranheza. Pela embalagem, trata-se de vacina contra influenza, vírus da gripe.

Sobre embalagens de cloreto de sódio, ela disse que a substância é usada no preparo de soluções para injeções na veia, mas não é recomendado para as que são aplicadas via intramuscular, como no braço.

Já as seringas de 3 ml, também encontradas na casa da falsa enfermeira, são indicadas para este fim.

Procurada, a defesa de Cláudia Mônica não se manifestou sobre o assunto.

Irmão Lessa admitem vacinação

Os irmãos Rômulo e Robson Lessa, donos da empresa de transportes Saritur, admitiram em depoimento à Polícia Federal, realizado nesta segunda-feira (29), que compraram vacinas contra a Covid-19.

O valor cobrado por duas aplicações foi de R$ 600.

PF cumpre mandados em casa de falsa enfermeira — Foto: Reprodução/TV Globo

PF cumpre mandados em casa de falsa enfermeira — Foto: Reprodução/TV Globo

De acordo com a PF, a mulher, que fingia ser enfermeira, tem passagem por furto e também teria comercializado a vacina falsificada, importada ilegalmente ou desviado do Ministério da Saúde para outras pessoas em Belo Horizonte, além dos investigados na operação Camarote. A PF investiga a origem das vacinas vendidas pela dupla, para identificar se são realmente falsificadas ou importadas de maneira ilegal. Um mandado também foi cumprido em uma clínica.

Rômulo Lessa, de camisa escura, chega acompanhado do irmão, Robson Lessa, na Polícia Federal — Foto: Reprodução/TV Globo

Rômulo Lessa, de camisa escura, chega acompanhado do irmão, Robson Lessa, na Polícia Federal — Foto: Reprodução/TV Globo

Mandados de busca e apreensão foram cumpridos na garagem onde supostamente ocorreu a vacinação e em residências dos empresários. Aparelhos celulares, computadores e documentos, incluindo uma lista com 57 nomes de pessoas que teriam se vacinado clandestinamente, foram apreendidos.

A defesa de Robson e Rômulo Lessa informou que os irmãos não vão se manifestar. Disse apenas que eles foram ouvidos como testemunhas no inquérito e não como investigados

Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas — Foto: Reprodução/TV Globo

Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas — Foto: Reprodução/TV Globo

A operação foi deflagrada após reportagem da revista Piauí, publicada no dia 24 de março, quando foi revelada por meio de vídeos a vacinação clandestina de empresários e políticos dentro de uma das garagens de empresas comandadas pelos irmãos Lessa.