O debate, transmitido gratuitamente pelo canal da Aberje no Youtube , contou com a participação de Marta Díez, presidente da Pfizer Brasil, Raul Machado Neto, diretor de Estratégia Institucional do Instituto Butantan, e Maria Berta Ecija, especialista em diplomacia da saúde pelo King’s College London. Foi o segundo encontro da série de webinars que teve início no mês passado, com um encontro por mês para discutir as relações entre Brasil e Reino Unido. Em março, o primeiro debate foi a respeito das Relações Brasil-Reino Unido pós-Brexit e contou com a participação do embaixador do Reino Unido, Peter Wilson. Em maio, o terceiro e último encontro discutirá ESG: um novo horizonte para finanças e negócios.
“É muito importante que todos estejam vacinados e, no futuro, veremos se as vacinas estarão menos eficazes, ou mais eficazes. Não há como exigir que todos tomem o mesmo tipo de vacina. Não existem doses de uma única vacina suficientes para todos, por isso, as populações devem tomar a que estiver disponível. A prioridade deve ser vacinar o maior número de pessoas, seja com qual vacina for”, defendeu Díez, presidente da Pfizer Brasil.
“Temos opções de vacinas seguras. Sobre a Coronavac, especificamente, ela foi aprovada pela Anvisa, que é uma agência muito respeitada. Agora, os procedimentos e a produção da Sinovac na China estão sendo qualificados pela OMS, o que muda muito a aceitação por parte de blocos como o Europeu e outros. Mas reforço também, da mesma forma, a importância da vacinação do maior número de pessoas, com qualquer vacina. Por isso, dou as boas vindas à vacina da Pfizer, que chegou ontem ao Brasil”, concordou Machado Neto, do Butantan.
Em relação às fake news, Díez ressaltou que a Pfizer lançou a campanha global “Science will win” (A Ciência vencerá), como forma de lembrar a população da importância da ciência e da vacinação. “É muito importante ter essa conscientização sobre a vacinação. As mães geralmente sabem bem da importância de vacinar as crianças, essa é uma boa oportunidade de alertar sobre a vacinação do adulto, e também da vacinação completa. É muito importante tomar as duas doses. A luta contra as fake news também é fundamental, para sairmos dessa crise e voltarmos à vida que tínhamos, as pessoas precisam estar conscientes e vacinadas”, afirma ela.
Já Machado Neto conta que o Butantan reestruturou seu departamento de comunicação, tornando o setor muito mais ativo e com mais interação com o público. “Temos sim a preocupação de desfazer afirmações que não são pertinentes nem científicas. Nossa comunicação deve ter base científica, mas ser palatável para o público geral, o que, para nós, é um grande desafio”, avalia.
Na visão de Maria Berta, do King’s College London, o impacto da desinformação sobre as campanhas de vacinação é muito extenso. “Quando se desinforma uma população, essa população fica polarizada, e vimos muito isso acontecer no Brasil – divide-se entre os que acreditam na vacina e os que desconfiam dela. Com isso, a atenção foi desviada da vacina, e o investimento que deveria ser direcionado para o desenvolvimento e a distribuição de vacinas foi utilizado para tratamentos precoces que não tinham eficácia comprovada. O impacto acontece inclusive na transmissão, pois influencia na decisão de sair às ruas. A pessoa faz o tratamento precoce e acha que está protegida, quando na verdade não está”, explica a especialista.
Expectativas da Pfizer para vacinação
Díez garante que a Pfizer está “muito preparada” para os desafios de 2021. “Produzir vacinas parece algo simples, mas é complicado, e a Pfizer tem ampla experiência, por isso, estamos prontos. Nesse ano, esperamos produzir 3 bilhões de doses da vacina, para serem comercializadas para países do mundo todo”, afirma a executiva, acrescentando que hoje 60 países já possuem contrato com a Pfizer.
No Brasil, segundo a executiva, foi assinado contrato para entrega de 100 milhões de doses até setembro, e ontem foi entregue 1 milhão de doses ao Brasil. “Mas ainda temos muitos milhões de doses para entregar, e não basta entregar, elas têm que ser distribuídas, existem todas as questões de logística”, explica Díez.
Para 2022, Díez afirma que ainda “é muito cedo para saber”. “Quanto à produção, não tenho dúvidas de que produziremos um número ainda maior de vacinas. Mas há outras questões envolvidas que terão de ser avaliadas, como as novas variantes. Por isso, teremos que avaliar posteriormente se as vacinas continuarão a ser eficazes, teremos que fazer estudos. Hoje já temos a variante britânica, a brasileira, a sul-africana, e a indiana. São perguntas que ficam no ar, tais como: precisaremos de novas vacinas? Será necessária uma terceira dose? Também há dúvidas em relação a gestantes, crianças, que não costumam ter quadros graves, mas que podem contaminar pais e avôs. São perguntas que ainda não sabemos responder”.
Confiança na Butanvac
Machado Neto também demonstrou otimismo tanto com a vacinação por meio da Coronavac quanto com a produção e futura distribuição da Butanvac – imunizante brasileiro contra a Covid-19, que já está sendo desenvolvido pelo Instituto Butantan.
Ele prevê que, até setembro, 100 milhões de doses da Coronavac serão produzidas e entregues ao governo brasileiro, e salienta que o Butantan já está ampliando sua capacidade de produção. “Hoje o produto técnico vem do exterior e é envasado aqui, mas temos todas as condições para produzir o IFA [insumo de farmacêutico ativo], que será a Butanvac. Essa nova vacina, 100% brasileira, utiliza a mesma plataforma da vacina da gripe. Somos hoje o maior fornecedor da vacina da gripe no Hemisfério Sul, somente neste ano fornecemos 82 milhões de doses”, explica.
O professor salienta que a Butanvac é fruto de parceria com a Medical School de Monte Sinai (Nova York) e com a Universidade de Austin (Texas). “Até julho devemos ter 18 milhões de doses da Butanvac já produzidas, mesmo antes da aprovação pela Anvisa. Temos uma expectativa muito positiva em relação à Butanvac, ela tem muito potencial para absorver as novas variantes. A capacidade de produção da Butanvac pode chegar a mais de 100 milhões, pois é a mesma plataforma da vacina da gripe, e hoje conseguimos chegar a 140 milhões de doses”.
O diretor do Butantan diz ainda que, paralelamente, haverá um processo de produção em parceria com a Sinovac para incluir na Coronavac as novas variantes.
Prioridade é fornecer para o SUS
Tanto a Pfizer quanto o Butantan salientaram que a prioridade é fornecer as vacinas para os governos, para abastecer os sistemas públicos de saúde, e que, até o momento, não existe nenhum plano concreto de comercializar a vacina para a iniciativa privada.
“Desde o início, a Pfizer sempre teve muito claro que a melhor forma de controlar a pandemia é por meio dos sistema públicos. Por isso, em 2021, nosso foco foi e continua sendo vender para os governos – dos EUA, da Europa, Brasil e de outros países da América Latina. Temos em mente que as campanhas de vacinação são o melhor caminho para combater o vírus, tanto do ponto de vista sanitário quanto social. Estamos vivendo o pico da pandemia em 2021, e nossa expectativa é que, em 2022, a situação esteja bem melhor, com mais vacinas e a situação mais controlada. Com isso, a estratégia das empresas pode variar, mas, por enquanto, o foco é o SUS e os sistemas públicos de saúde [dos demais países]”, esclarece.
“Tivemos procura por países da América Latina pela Butanvac, mas a prioridade é o fornecimento para o SUS”, concorda Machado Neto.
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