No mês de setembro de 2022, foi realizada em Nova York a Climate Week ou traduzindo a Semana do Clima, que pelo décimo quarto ano foi o maior evento climático global deste tema, no qual reuniu os líderes mais influentes em ação climática de empresas, governos e academias, em conjunto com a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), tendo como objetivo principal impulsionar com agilidade as ações para tentar soluções frente as mudanças climáticas.
Os impactos das mudanças climáticas são diversos e provocam com mais frequencia eventos extremos de secas ou enchentes, frentes frias com geadas ou elevadas temperaturas, entre outros, todos incidentes que estão relacionados ao aquecimento global pós era industrial, sendo uma das principais causas desse aquecimento a emissão de gases do efeito estufa, como o carbono.
Nesse cenário, o agronegócio, considerando a soma de todas as operações das cadeias de valor que acontecem antes, dentro e depois da porteira das fazendas, está totalmente comprometido com essa questão das mudanças climáticas. Segundo dados da pesquisa CEO Survey da PwC em 2022, as mudanças climáticas é a segunda maior ameaça para 50% dos líderes do agronegócio, ficando somente atrás das instabilidades macroeconômicas, que foi citada por 57% dos respondentes.
O agronegócio é um dos principais setores da economia brasileira e global, pois representou 27% do Produto Interno Bruno (PIB) em 2021, segundo levantamento do Centro de Estudos em Economia Aplicada (CEPEA) e respondeu por 48% das exportações, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O agronegócio faz a interligação entre o rural e o urbano, além da integração entre países, com impacto em toda sociedade, na produção de alimentos, fibras e bioenergia.
Com toda essa representatvidade na economia, um dos grandes desafios para o crescimento sustentável do setor é o impacto ambiental e às mudanças climáticas. O fato é que a atividade agropecuária é vulnerável às mudanças do clima e também tem participação nas emissões de gases do efeito estufa (GEE) geradas por seus processos produtivos, que segundo dados da oitava edição (2019) do Sistema de Estimativas de Emissões de Remoções de Gases e Efeito Estufa (SEEG), o setor foi responsável por 28% das emissões totais de GEE no país. Entretanto, apesar das elevadas emissões, o mais importante, é que o agronegócio é fundamental quando se trata de estratégias de mitigação, ou seja, tem o potencial de ser parte relevante da solução.
O Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), estabelece seis práticas que visam o desenvolvimento sustentável e com isso, a mitigação das emissões do setor, sendo elas: recuperação de pastagens degradadas; integração lavoura-pecuária-floresta; sistema de plantio direto; florestas plantadas; tratamento de dejetos animais, e fixação biológica de nitrogênio.
Dentre as seis atividades indicadas, destacam-se duas de relevância em relação ao potencial de mitigação de emissões quando se trata da pecuária bovina nacional: recuperação de pastagem degradadas e sistemas integrados de Lavoura Pecuária Floresta (ILPF).
A mudança do uso da terra é o fator determinante para inverter o sinal das emissões de GEE no sistema de pecuária. As tecnologias de recuperação das pastagens, bem como a reintegração de sistemas agrícolas, pecuários e florestais têm capacidade de reduzir as emissões associadas à produção agrícola moderna e de promover ganhos de produtividade.
Segundo estudo do Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioecnomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) realizado em 2021, considerando um cenário de evolução da pecuária com redução gradual de pastagens degradadas e incremento de áreas de ILPF, através do modelo de projeção desenvolvido para diferentes ações de descarbonização da pecuária, até 2030 haveria remoção líquida total de carbono; ou seja, a adoção em larga escala de uma tecnologia de descarbonização é capaz de transformar uma atividade agropecuária, tradicionalmente emissora, em mitigadora de GEEs. Além disso, o excedente de mitigação poderia compensar uma parcela das emissões diretas e indiretas provenientes de outras atividades agropecuárias.
Dentre os dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da ONU, o agronegócio está diretamente relacionado a pelo menos três deles, sendo Fome Zero e Agricultura Sustentável, Consumo e Produção Responsáveis e Ação Contra a Mudança Global do Clima. Nesse contexto, a sinergia entre sistemas integrados de produção agropecuária são importantes vetores para sustentabilidade, desenvolvimento social e melhoria dos direitos humanos na sociedade.