Retomada dos cuidados: diagnósticos de Alzheimer devem crescer após isolamento na pandemia

Albanita Bauer foi
diagnosticada com
doença de Alzheimer há
pouco mais de 4 anos.
Neste tempo, perdeu
parte de lembranças
importantes da vida, mas
nunca esqueceu do marido, Izan, com quem é
casada há mais de seis
décadas. Recentemente,
quando ele precisou ser
internado por problemas
cardíacos e covid-19,
no Hospital Marcelino
Champagnat, em
Curitiba (PR), ela ficou
em casa perguntando o
tempo todo onde estava
o namorado, a que horas
ele chegaria. “O amor
que ela sente pelo meu
pai é algo que o Alzheimer
não conseguiu apagar”, conta
a filha Patrícia.
O esquecimento é o sintoma
mais conhecido do Alzheimer,
mas nem sempre acompanha
a doença. O comprometimento da memória, principalmente em relação aos fatos mais
recentes, existe, mas, muitas
vezes, a apatia, depressão,
alteração na linguagem e dificuldades para realizar tarefas do dia a dia podem ser
os sinais iniciais da doença.
Quanto mais avançada, mais
comum é o paciente ter maior
irritabilidade, agressividade,
desconfiança excessiva, passividade e tendência ao isolamento. Por isso, médicos afirmam que é preciso pesquisar
a doença, muito antes que ela
apareça.
“É um combo. Existem fatores genéticos, mas a qualidade
de vida também influencia no
surgimento da doença. Quem
praticou atividade física aeróbica de forma constante, evolui
menos com o Alzheimer, assim
como as pessoas com maior
escolaridade. Estudos já nos
mostram que a doença tem o
fator genético, mas o ambiental também interfere”, explica o neurologista do Hospital
Marcelino Champagnat,
Gustavo Franklin.
Números
Em 2019, o número estimado de casos de demência no mundo era maior
que 57,4 milhões. Se
levarmos em conta que
a cada três segundos
uma pessoa desenvolve essa síndrome, o
número deve triplicar até
2050. E muitos desses
casos podem receber o
diagnóstico tardio, isto
é, após o isolamento da
pandemia, que interrompeu os acompanhamentos de rotina.
O Alzheimer é a mais
comum das demências
neurodegenerativas nos
idosos, principalmente
após os 85 anos. Ainda
sem causa definida, essa
doença acontece quando
há alteração no processamento de proteínas
específicas do sistema
nervoso central. Dessa
forma, passam a surgir
fragmentos de proteínas
mal cortadas e tóxicas,
não apenas dentro dos
neurônios, mas também
no espaço entre eles.
Essa toxicidade é capaz
de gerar perda progressiva dos neurônios.
Após o diagnóstico,
é fundamental manter a
terapia medicamentosa,
mas também oferecer
estímulos físicos, psicológicos, fonoaudiologia
e hábitos adequados de
sono. “Uma rotina bem
estabelecida ajuda a
pessoa com Alzheimer”,
complementa Franklin.