Café canéfora é especial também
*Enrique Alves-
Pesquisador da Embrapa Rondônia
Historicamente, o café da espécie arábica sempre foi considerado mais nobre, puro e de qualidade. E, talvez o Brasil tenha sido um dos grandes embaixadores desse conceito. O que chega a ser um contrassenso, logo o país da mistura e da diversidade não consegue enxergar beleza e sabor além do óbvio?.
Os cafés canéfora sempre foram considerados como de segunda linha, que serviam para baratear blends (mistura) com arábicas de padrão baixo, ou para uso na indústria de solúveis. Realmente, as plantas da espécie canéfora são mais rústicas e produtivas e isto torna o custo de produção e comercialização competitivo para o uso industrial. Além disso, a constituição química de componentes como açucares, lipídeos, cafeína e tantos outros também são distintos entre as duas espécies.
O fato de a espécie canéfora apresentar uma “vantagem” com relação à sua facilidade de cultivo, talvez tenha se tornado o seu “calcanhar de Aquiles” ao longo dos anos. Isso fez com que os produtores de canéfora se preocupassem mais com a fase pré-colheita do que com as demais. Este tipo de produtor passou a buscar cada vez mais a produtividade e menores custos de produção. Tornou-se especialista em commodities.
Os produtores de arábica, por outro lado, começaram a se diversificar para a valorização da qualidade de bebida e busca por mercados mais exigentes e que poderiam pagar mais por esse tipo de grão.
Esse processo evolutivo da cafeicultura no país, produtividade para o canéfora e qualidade para o arábica, fez com que passássemos a ser extremamente injustos com nossos conilons e robustas.
Até entre os mais antenados do setor é comum ainda se ouvir: quer um café de qualidade? Procure no rótulo a descrição 100% arábica. E o consumidor passou a enxergar os nossos conilons e robustas como impurezas. A palavra blend ou mistura costuma frequentar as embalagens em letras miúdas.
Mas, como o café e a sua cadeia tem como características a capacidade constante de se reinventar, esta distinção negativa das espécies vai se tornando, a cada dia, mais obsoleta.( Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)-www.embrapa.br/fale-conosco/sac/)