O Brasil tem ao menos 17 projetos em andamento para criar novas vacinas contra a Covid-19, mas, por enquanto, apenas duas iniciativas estão prontas para avançar para a fase de estudos em humanos. Os pesquisadores da ButanVac e da Versamune fizeram pedidos à Anvisa para começar esses testes, no final de março.
A agência aguarda o envio de mais detalhes para dar aval à continuidade dos trabalhos.
Conheça abaixo um pouco sobre cada projeto brasileiro de imunizante contra o coronavírus
Instituto Butantan: fábrica própria é trunfo para ButanVac
A instituição ligada ao governo de São Paulo aparece no levantamento de projetos de vacina contra Covid em curso no Brasil com dois estudos além da ButanVac, candidata anunciada no final de março.
Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e Farmacore: testes em humanos à vista
Chamada de Versamune, é o projeto mais avançado depois da Butanvac. Em animais, se mostrou imunogênica e sem efeitos tóxicos, segundo a Farmacore. Em 25 de março, a Anvisa recebeu a solicitação de testes do imunizante em humanos. Dois dias depois, a agência solicitou documentos sobre o controle de qualidade dos lotes que serão testados em humanos, o que deve ser entregue pela empresa em maio. A Anvisa terá então 72 horas para dar um parecer sobre a autorização dos testes, que devem começar em junho.
As duas primeiras fases dos testes terão 360 participantes e serão feitas no Hospital do Coração (HCor) de São Paulo, sob supervisão do imunologista da USP Célio Lopes Silva. Essa fase custará R$ 30 milhões. Da terceira fase, que depende de R$ 310 milhões prometidos ao projeto pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), participarão 20 mil voluntários pelo país.
Universidade de São Paulo (USP): spray é projeto mais avançado
A USP tem ao menos seis trabalhos em busca de novas vacinas contra a Covid, além do estudo da Versamune, que é uma parceria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP com a startup Farmacore (leia acima).
Fora a Versamune, o projeto mais avançado da instituição é o encabeçado pelo imunologista Jorge Kalil, do Incor, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina. Ele envolve ainda o Instituto de Ciências Biomédicas, o Instituto de Química, a Faculdade de Ciências Farmacêuticas, além de ter participação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): verba municipal e vacina 2 em 1
Em parceria com a Fiocruz Minas, a UFMG tem dois projetos promissores, que receberam cerca de R$ 5 milhões do MCTI. O primeiro, Spintec, receberá R$ 30 milhões da prefeitura de Belo Horizonte, via termo de cooperação, para realizar as primeiras duas fases de testes em humanos. Os testes em animais, ainda em realização, apontam alta eficácia.
O uso de tecnologia de recombinação de proteínas aumenta as chances do imunizante ser eficiente mesmo contra diferentes variantes do vírus, diz Ricardo Gazzinelli, imunologista que coordena o estudo. A expectativa é que a primeira e segunda fases dos testes em humanos ocorram no final do ano, com chegada ao mercado em 2022. O financiamento da fase 3, no entanto, ainda é incerto.
Universidade Federal do Paraná (UFPR): polímeros como base
A vacina candidata contra a Covid-19 pesquisada na UFPR, segundo os responsáveis pelo projeto, poderá começar a ser testada em humanos dentro de cerca de seis meses. O projeto, que ainda está em estudo com animais, pretende resultar em um imunizante de baixo custo e produção 100% nacional, com um potencial de aplicação tanto por injeção quanto por spray nasal. Sua tecnologia se baseia em biopolímeros revestidos com a proteína Spike do novo coronavírus.
A pesquisa já observou resultados “promissores”, de acordo com os cientistas. Até agora, eles encontraram nos camundongos anticorpos contra a doença em quantidade igual ou até superior à obtida nos testes da vacina de Oxford/AstraZeneca em etapa semelhante. Para avançar nas etapas de pesquisa com humanos, o projeto, no entanto, vai precisar de mais recursos, entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões, ainda não garantidos.
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): falta de recursos e financiamento privado
O estudo coordenado pela engenheira Leda Castilho utiliza tecnologia de proteínas recombinantes que, segundo ela, tem a vantagem de ser utilizada há décadas em vacinas seguras e eficazes, mesmo em crianças e idosos — como da vacina contra Hepatite B. A vacina em estudo induziu a formação de altos níveis de anticorpos nos animais testados, deve ser eficaz contra variantes locais e ter custo similar à Coronavac, diz Castilho.
O projeto está na fase final dos testes em animais e deve realizar testes em humanos no final de 2021. Mas os recursos são escassos. Até agora, R$ 2 milhões foram captados via plataforma de investimento privado estrangeiro apoiada por fundações de personalidades como Mark Zuckerberg e Elon Musk, respectivos donos do Facebook e da Tesla. Segundo Castilho, o projeto poderia avançar mais rapidamente se tivesse mais recursos.
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz): estrutura de Bio-Manguinhos pode facilitar produção
A Fundação tem dois projetos de vacina brasileira em andamento, ambos iniciados em janeiro de 2020 — um utiliza proteínas sintéticas e, o outro, recombinantes. Os testes em roedores estão sendo finalizados, com resposta positiva, e testes em primatas não-humanos devem começar em junho.
A instituição afirma que as vacinas terão como vantagem seu preço, adaptabilidade a novas variantes e a capacidade de serem produzidas na estrutura da Bio-Manguinhos, unidade tecnológica da Fiocruz que produz vacinas como a tetravalente (contra varicela, sarampo, caxumba e rubéola). Por isso, as vacinas serão administradas de forma injetável, como as demais produzidas ali.
Universidade Federal de Viçosa (UFV): recursos enxutos e tecnologia promissora
Grupo coordenado pelo pesquisador Sérgio de Paula trabalha em três candidatas à vacina. A primeira, baseada num composto de proteínas recombinantes, forma uma “quimera vacinal” e é caracterizada pela inserção de pedaços do coronavírus na vacina da febre amarela. Outra, é baseada em subunidades proteicas do Sars-CoV-2 inseridas num fungo.
A terceira, considerada a mais promissora, usa partículas virais parecidas com vírus (VLPs) que, através da engenharia genética, são produzidas para induzir a resposta imune ao vírus, sem no entanto possuir o genoma viral do Sars-Cov-2.
Os testes em animais serão feitos em parceria com a Fiocruz Pernambuco. A expectativa, segundo de Paula, é que a tecnologia da VLP também possa ser usada em testes sorológicos para detecção da Covid-19 e em estudos sobre o impacto do coronavírus no organismo humano. Os três projetos começaram em agosto de 2020 e receberam, no total, em torno de R$ 450 mil, através de editais de financiamento do MCTI.