O governo do Estado de São Paulo confirmou nesta quarta-feira (10) o registro de casos da variante P.1 do novo coronavírus em mais três cidades do Oeste Paulista.
Segundo a Vigilância Epidemiológica Estadual, foram 1 caso em Martinópolis, 1 caso em Tarabai e 4 casos em Presidente Prudente.
Os pacientes de Martinópolis e Tarabai não fizeram viagens.
Já em relação a Presidente Prudente, uma das quatro pessoas que contraíram a chamada variante de Manaus (AM) do novo coronavírus participou de viagem. Por isso, 3 registros em Presidente Prudente são considerados autóctones.
Além dessas três cidades confirmadas pelo Estado, as prefeituras de Dracena e de Presidente Venceslau já haviam divulgado registros de casos da cepa P.1 em seus municípios.
A primeira cidade do Oeste Paulista a confirmar a presença da variante P.1 foi Dracena, na última sexta-feira (5).
Através de coleta feita na cidade pelo Laboratório São Lucas, as amostras foram enviadas à empresa Dasa, uma rede de laboratórios, em Barueri (SP). O resultado dos exames apontou que, das 10 amostras analisadas, apenas uma não era a variante conhecida como P.1. Esta cujo resultado não comprovou a cepa o exame informou que se tratava de outras linhagens.
Os resultados chegaram ao município na última quinta-feira (4). Conforme a secretária-adjunta de Saúde, Geni Pereira Lobo Pesin, das 10 amostras coletadas, três pacientes morreram e foram infectados com a variante P.1.
A médica coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) destinada ao atendimento de pacientes com Covid-19 na Santa Casa de Misericórdia de Dracena, Aline Damasceno, informou que a confirmação da P.1 na cidade muda completamente todo o esquema de trabalho no enfrentamento da pandemia.
“O comportamento dos pacientes, a evolução da doença é totalmente diferente e muito mais agressiva, isso já havia nos assustado com a evolução dos nossos pacientes, requer um pouco mais de estudo e de cuidado da nossa parte. Vamos tentar gerar um novo plano de ação para poder atender esses pacientes mais precocemente para poder intervir e agora buscar informações para poder montar um protocolo de atendimento para isso. Todos nós estamos muitos cansados, é muito complicado ver tanta gente nova morrendo. Vamos precisar preparar a equipe para atender”, afirmou a médica.
Ela disse que é uma cepa mais agressiva, tem uma facilidade maior de disseminação e uma letalidade maior pelo fato de ter mais facilidade de adentrar a célula humana.
“A princípio, ainda o melhor é o isolamento social e evitar pegar a doença”, alertou Aline Damasceno.
Já a Prefeitura de Presidente Venceslau divulgou nesta quarta-feira (10) a confirmação da presença da variante de Manaus do novo coronavírus na cidade.
Foi uma paciente, que colheu amostras para exame em fevereiro e cujo resultado saiu na terça-feira (9) com a confirmação da nova cepa.
Presidente Venceslau foi a segunda cidade do Oeste Paulista a ter a confirmação da variante de Manaus.
A secretária municipal de Saúde de Presidente Venceslau, Lianir Aguillar Ribeiro, informou que a pessoa diagnosticada com a variante de Manaus é uma mulher, de 45 anos, que está bem.
“Ela testou positivo para Covid-19 em 12 de fevereiro, fez o isolamento e já está curada da doença. Não precisou ser hospitalizada”, detalhou Lianir.
A secretária ainda esclareceu que o município recebeu nesta terça-feira (9) a confirmação de que a paciente contraiu a variante.
“Dentre várias amostras de exames de todo o Estado, o [Instituto] Adolfo Lutz seleciona algumas para realização de estudos e uma dessas amostras que apontaram a variante é de nossa cidade”, explicou Lianir.
Ainda conforme a secretária, a Vigilância Epidemiológica Municipal está investigando o caso e, após a finalização dessa apuração, o comitê local de enfrentamento da pandemia se reunirá para analisar possíveis medidas.
Estado confirma presença de variante do novo coronavírus em cidades do Oeste Paulista
Dados do Estado
Segundo a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, a confirmação de novas variantes não deve ser confundida com diagnóstico nem pode ser considerada de forma isolada.
“Trata-se de um instrumento de vigilância que contribui para o monitoramento da pandemia de Covid-19”, ponderou.
Até esta quarta-feira (10), foram confirmados, após análise do Instituto Adolfo Lutz e do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), 52 casos autóctones da variante P.1 nas seguintes cidades paulistas: capital (1); Araraquara (12); Bauru (3); Biritiba Mirim (1); Bocaina (1); Cajamar (1); Dracena (1); Dois Córregos (1); Lençóis Paulista (4); Lins (3); Martinópolis (1); Mococa (4); Osasco (1); Pederneiras (1); Presidente Prudente (3); Presidente Venceslau (1); São José dos Campos (2) e Tarabai (1).
Houve também nove confirmações da B117, sendo 5 na capital, 1 em Bauru, 1 em Guarulhos, 1 em Jacareí e 1 em Peruíbe.
Como já está confirmada a presença de ambas as variantes no território, a contabilização passa a ser de autóctones.
“A confirmação de variantes ocorre por meio de sequenciamentos genéticos realizados por laboratórios como o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Soma-se a isso o trabalho de Vigilância Epidemiológica para investigação dos casos, como históricos de viagens e contatos. Esta identificação contribui para as estratégias de vigilância, não sendo necessário do ponto de vista técnico e científico sequenciamentos individualizados uma vez confirmada a circulação local da variante, como já ocorre com a P.1 e B.1.1.7”, pontuou a secretaria.
“Até o momento, não há comprovações científicas de que sejam variantes mais transmissíveis ou provoquem quadros mais graves, nem evidências referentes à capacidade de resposta imune das vacinas disponíveis. Pesquisadores em todo o mundo estudam o comportamento da pandemia e as mutações do vírus (SARS-CoV-2)”, complementou.
“Assim, as mesmas medidas já conhecidas pela população seguem cruciais para combater a pandemia do coronavírus: uso de máscara, que é obrigatório em SP; higienização das mãos (com água e sabão ou álcool em gel); distanciamento social; e a vacinação contra COVID-19, respeitando-se o cronograma e os públicos-alvo vigentes, conforme estabelecido pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) e pelo PEI (Plano Estadual de Imunização) do Governo de São Paulo”, salientou.
Maior carga viral
Um estudo feito por pesquisadores da Fiocruz aponta que adultos infectados pela variante brasileira P.1 do coronavírus, identificada primeiro no Amazonas, têm uma carga viral – quantidade de vírus no corpo – dez vezes maior do que adultos infectados por outras “versões” do vírus. Uma maior carga viral contribui para que a variante se espalhe mais rápido.
A pesquisa ainda não foi revisada por outros cientistas nem publicada em revista, mas está disponível on-line.
“[Se] a pessoa tem mais carga viral nas vias aéreas superiores, a tendência é que ela vai estar expelindo mais vírus – e, se ela está expelindo mais vírus, a chance de uma pessoa se infectar próxima a ela é maior”, explicou Felipe Naveca, pesquisador da Fiocruz Amazonas e líder do estudo.
Os pesquisadores analisaram 250 códigos genéticos do coronavírus durante quase um ano. A amostragem cobriu o primeiro pico da doença, em abril, e o segundo, no final do ano passado e no início de 2021.
Eles perceberam que essa maior quantidade de vírus não acontecia, entretanto, nos homens idosos (acima de 59 anos). Uma possível explicação para isso é que a resposta imune de homens idosos tende a não ser tão eficiente de forma geral.
“Em homens mais velhos, a resposta imune já não consegue responder tão eficientemente, e aí não teve diferença sendo P.1 ou o outro [vírus]”, apontou Felipe Naveca.
Também é possível que isso tenha acontecido nesse grupo porque a quantidade de pessoas analisadas nessa faixa etária foi menor, explicou o pesquisador Tiago Gräf, também autor do estudo, em uma publicação na rede social Twitter.
Felipe Naveca afirmou, entretanto, que não há relação entre quantidade de vírus no corpo e gravidade da doença ou, até mesmo, presença deles.
“Carga viral não está relacionada com gravidade – a gente tem pacientes com alta carga viral e sintomas muito leves ou até sem sintomas”, disse o pesquisador.
A P.1 já vinha sendo apontada por vários pesquisadores ao redor do mundo como mais transmissível, por causa de mutações que ela sofre na região que o vírus usa para infectar as células humanas.
Relaxamento e disseminação
Os pesquisadores também apontaram que o espalhamento da P.1 se deu por uma combinação de fatores relacionados ao próprio vírus e ao relaxamento do distanciamento social no Amazonas.
Os cientistas indicaram que as chamadas intervenções não farmacêuticas – como uso de máscaras e distanciamento social – em abril do ano passado foram “suficientemente eficazes” em reduzir a velocidade de transmissão do vírus no Estado, mas não em colocar a epidemia sob controle.
Isso permitiu ao vírus sofrer mutações e contribuiu para o surgimento, em novembro, da P.1 – que logo se tornou dominante.
“A falta de distanciamento social eficiente e outras medidas de mitigação provavelmente aceleraram a transmissão precoce da variante de preocupação [VOC, na sigla em inglês] P.1, enquanto a alta transmissibilidade desta variante alimentou ainda mais o rápido aumento de casos de SARS-CoV-2 e hospitalizações observados em Manaus após seu surgimento”, pontuaram os pesquisadores brasileiros.
Eles reforçaram, ainda, que “a fraca adoção de intervenções não farmacêuticas, como ocorreu no Amazonas e em outros estados brasileiros, representa um risco significativo para o contínuo surgimento e disseminação de novas variantes”.
Por TV Fronteira e G1 Presidente Prudente